blind light
aqui a luz faz o contrário de iluminar, é como
a desorientação ou a serendipia. blind
light, um quadrado que
cega
a pergunta certa podia ser: o que você
faz enviando postais de lisboa ou
seu telefone não atende a
chamadas com números
longos?
mas não podia dizer nada
o último jantar era silencioso,
enquanto pensava em uma escala que planificasse o
esférico: o mundo não seria redondo
mas alguns pacotes de água empilhados
em uma superfície plana para
cobrir os buracos
deste ponto de vista o azul não é
azul. precisa desta vez de
29 dimensões para caber:
e então ela entra
em cena
silêncio
aqui a luz faz o contrário de iluminar
e mais uma vez o 2 e o 9: primeiro somam
58. depois as placas riscavam o ar repetindo-
se a cada esquina. 2. 9. 2. 9
– você ainda vai me ver três
vezes antes do final, fique atento
aos sinais, falou. se procurar as palavras-
chave encontrará
números mas também
seres marinhos, cílios, quilômetro, retina e
eletricidade. 2. 9. 2. 9.2.
o que eu vejo ao lembrar
de você é um buraco
só um buraco.
um buraco cegando tudo.
diante do buraco, as hélices desenhando a
cena em pleno ar:
imagina
que desce durante o giro, o corpo em
câmera lenta caindo
Sobre a autora: Marília Garcia (Rio de Janeiro, 1979) publicou os livros 20 poemas para o seu walkman (Cosac Naify, 2007) que, em 2013, foi traduzido para o espanhol e publicado na Argentina pela Vox Editorial, Engano geográfico (7letras, 2012) e Um teste de resistores (7letras, 2014). Edita a revista de poesia Modo de Usar & Co com os poetas Angélica Freitas e Ricardo Domeneck. Trabalhou durante dez anos no mercado editorial, tendo participado do comitê editorial de várias revistas literárias, como a Inimigo Rumor, a Ficções e a Lado 7.

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