segunda-feira, 6 de abril de 2015

Edição de abril: poetas convidados (parte 1)

Abrindo o elenco de convidados da edição de abril do Eco: Anelise Freitas



Foto: Paula Vasconcelos.


Por enquanto não há previsões de mudança, pode ser que eu morra na volta


Jailson Kokeru dizia naquela tarde azul
que nasceu na cidade da Praia, Cabo Verde,
onde todos falavam português quatro horas por dia
(na escola) e crioulo na vida.
Os homens mais ricos daquela região
ainda andam sujos do serviço.
Dizia que em Angola e Moçambique se fala o português como unidade
e alguns dialetos em paralelo.
Naquela tarde azul descobri que Cabo Verde ainda guarda heróis
mais cheios de vida do que Vascos da Gama, Tiradentes
ou escritores em língua portuguesa de Portugal.
Falamos brasileiro, ora pois.
Isso não é um poema.

(Você sabe exatamente como eu fico.)

Já botei os dedos cruzados entre a boca e disse:
- Eu preciso dar um grito!

É isso.

- Leoa!,
é como te chamam quando cerra esses dentes
e fecha essa cara e pende
as sobrancelhas castanhas
e joga a juba para os lados e fuma

ou quando olha pra cima, vendo
o fogo pegar nos teus braços
e aponta pra mim e diz
: tu!
E os teus quilômetros de pescoço
e os teus lábios de Brando
e os nossos óculos iguais

e o que você queria que eu dissesse
com teus cabelos surrados?
O corpo curvado e a promessa dos seios;
O quê?

E quando eu digo que odeio Copacabana
você me agarra a boca e ri.

Eu sei de todo o teu corpo
(menos onde nasce esse sorriso
e como isso flutua no meu corpo
como a fumaça do Marlboro
vermelho (como a nossa pele)).

Leãozinho:
é fácil falar das coisas,
não é fácil sentir universos;
é fácil jogar com as palavras,
não é fácil sentir pessoas.


Sobre a autora: Anelise Freitas cursa Letras e mestrado em Teoria Literária na Universidade Federal de Juiz de Fora. Publicou os livros de poesia Vaca contemplativa em terreno baldio (Aquela Editora, 2011) e O tal setembro (Os 4 mambembes, 2013), além da plaquete Pode ser que eu morra na volta (Edições Macondo, 2015). É uma das organizadoras do Eco Performances Poéticas.

*

Edição de abril do Eco Performances Poéticas
10 de abril, sexta-feira, a partir das 19h
Museu de Arte Murilo Mendes
(Rua Benjamin Constant, 790. Centro. JF-MG)
Entrada franca
Evento no Facebook: http://on.fb.me/1F6BTq0

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