quinta-feira, 14 de maio de 2015

Impressões - parte I

por André Capilé


2008, junho. Inventamos o ECO – Performances Poéticas. História velha, passo.

2009, dezembro. Olegário Maciel, esquina com Floriano. Estávamos os quatro. Discutíamos, então, o futuro do evento. Frase recorrente: embora o evento seja feito por pessoas, nenhum integrante é maior que a empresa. Conclui-se: a marca sobrevive para além de seus fundadores. Fato. Contudo, havia uma emergência: era necessário convocar novos elementos para, então, renovar interesses e criar medidas diferentes das que, até aquele momento, nós tínhamos tomado.

Havia, dentro de certo rebuliço, dois braços ativos que, atentos, assistíamos. Um, o caderno encontrare. Seus editores nos pareciam interessantes. O que prevíamos: poderemos, de agora em diante, construir uma plataforma física dos poemas lidos em viva voz. O segundo, Geleia Geral. Um blogue literário. Suas editoras nos pareciam interessantes. O que prevíamos: poderemos, de agora em diante, construir uma plataforma eletrônica dos poemas lidos em viva voz, além de criarmos, juntos, conteúdos, antes e depois. dos eventos. Eram, então, duas iniciativas que, a nosso ver, contribuiriam com competências que nós, os quatro, não tínhamos. E, não menos importante, mais um dado: havendo mais pessoas envolvidas, era mais dinheiro no fim do evento para rachar os valores das caixas de som que alugávamos para o show acontecer.

2010, maio. Havia acabado de me mudar para o Rio. Nesse mês acontece o primeiro evento sob a nova gerência. Não lembro absolutamente nada. Tentei olhar para as fotografias, e nada. O que me tocou, com alguma graça, foi que elas não se tornam mais amarelas com o passar do tempo; e a única coisa, realmente significativa, que consegui pensar, foi: como a Thais gostava de tênis sujos, antes de fotografar crianças. Minha memória, desde sempre bastante frágil, só consegue mentir. E talvez seja a única coisa honesta que eu tenha a dizer.

2010, meses seguintes. A mim me interessam mais, confesso. O evento no Corpus Christi, por exemplo. A viagem ao CEP 20000. Términos de casamentos e romances. Relações quebradas. Ciúme. Discussões intermináveis na lista de e-mail. Toda sorte de manifestações afetivas, ora rudes ora dóceis, de quem se atreve a construir coisas em grupo. Foi nesse ano que comecei a ser esquecido, quase por querer. Não suportei, então, a bagagem de ver o evento correr das minhas mãos. Um porra de sujeito agonizando, mas que não larga o osso. Um autorretrato possível da época. Eu era beligerante – topei com essa palavra outro dia. Não mudei muito, outra confissão. Contudo, vou admitir, só essa vez, o que continua acontecendo, a despeito da minha existência. E talvez seja a única coisa honesta que eu tenha a dizer.

O ECO – Performances Poéticas continua funcionando, a despeito das pessoas que, porventura, não tenham acreditado ser possível. O ECO – Performances Poéticas é, e continuará sendo, uma marca maior e mais efetiva que seus organizadores. O ECO – Performances Poéticas construiu uma cena, sim. Ainda que tenha formado, ao longo dos seus anos, mais plateia do que um público, é muito salutar assistir a autores que apareceram, nasceram – e também morreram – nos últimos anos. É com muita alegria, de verdade, que eu tenha assistido o aparecimento de editoras independentes: Aquela Editora e Edições Macondo. Que tenha assistido o aparecimento de pessoas novas e mais arejadas, o que nunca consegui ser.

O ECO – Performances Poéticas foi a única namorada que eu nunca quis largar, em tempo algum.




(André Capilé lê sua tradução para "Holy", de Allen Ginsberg, no microfone aberto da edição de junho de 2010 do Eco)

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